Comentário da Tradução
O título deste texto poderia ser traduzido como “O lugar dos estudantes é na união”, porém não teria o mesmo tom provocativo. É como se sindicato fosse uma coisa e união fosse outra. Em meus estudos, consegui compreender que, principalmente entre o século XIX e XX, o termo sindicato era mais usual na Europa, principalmente França e na Espanha. Temos como exemplo o Syndicat national des instituteurs da CGT francesa e o Sindicato de Enseñanza da CNT espanhola. No outro lado do atlântico, a palavra união (union) é fortíssima na América do Norte: a estadunidense Freelance Journalist Union da IWW, a canadense One Big Union.
No Brasil estes dois termos coexistem no contexto de organização do povo. Porém, principalmente após a intervenção estatal nas organizações sindicais na década de 30, o termo sindicato se institucionalizou cada vez mais como uma entidade oficial representativa para certos trabalhadores em certos contextos. Experiências como um sindicato dos inquilinos, dos ambulantes, das trabalhadoras sexuais, dos trabalhadores do bairro ou comunidade X; ficaram mais distantes do debate e prática organizativa dos trabalhadores brasileiros. Ou melhor, experiências assim até existem, mas não com o nome de sindicato, mas com o nome de união, associação, coletivo e outros. Ainda que o termo sindicato evoque um caráter de classe, isso não impediu a criação de sindicatos patronais, assim como existem associações que são simplesmente instrumentos de dominação, do mesmo modo que os sindicatos oficiais vendidos.
O interesse de abordar essa discussão é porque ela é fundamental para contextualizar o texto em nossa realidade brasileira. Assim, busquei evocar a palavra sindicato na tradução para garantir o caráter de classe desta organização, muitas vezes invisibilizado em nomes como “associação” ou “centro acadêmico”. Ao mesmo tempo, considero que não temos que ter estresse com essa padronização. Vejo que sindicato é união e união é sindicato; quando ambas são organizações classistas.
Outro ponto importante é que busquei adaptar alguns exemplos e referências que o texto faz à realidade americana para a realidade brasileira, principalmente através das estatísticas. Porém, também mantive e até expandi alguns exemplos internacionais de organização no campo educacional. Não se deve, no entanto, fechar os olhos às inúmeras experiências brasileiras e do sul global de maneira extraordinária promoveram uma unidade entre todos os trabalhadores em luta no contexto educacional.
A ideia é que esta tradução e adaptação possa ser apropriada por organizações sindicalistas revolucionárias, principalmente a FOB, para refletir sobre a práxis no contexto da indústria da educação.
O texto original é um ensaio publicado pelo coletivo Angry Education Workers, em janeiro de 2024, que foi feito a partir de um panfleto de membros da IWW do Reino Unido para estudantes militantes. Foi traduzido e adaptado em abril de 2024 pelo Arquivo Lucy Parsons. Como sugerido pelo Angry Education Workers, não hesite em roubar, adaptar e difundir da maneira que melhor encaixar no seu contexto.
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Os alunos são trabalhadores e também precisam de um sindicato
Pagando para ser um aprendiz
Ser estudante significa adquirir o conhecimento e as habilidades necessárias para entrar no mercado de trabalho no futuro. No entanto, esse é o único tipo de trabalho pelo qual você precisa pagar. Os alunos assistem às aulas, pesquisam, escrevem trabalhos e participam de atividades extracurriculares. Se tiverem sorte, os alunos podem ter acesso ao ensino superior gratuitamente, mas ainda assim devem trabalhar para cobrir suas despesas ou contrair dívidas. Espera-se que os alunos tirem leite de pedra para adquirir as habilidades que beneficiarão seu futuro patrão.
Há um século ou mais, o ensino médio e a universidade eram redutosdos filhos dos privilegiados e ricos. Desde então, a escala e o alcance da educação básica e de nível superior se expandiram no Brasil. Em 2022, entre pessoas com 25 anos ou mais, a cada 10 pessoas, 5 terminaram o ensino médio e 2 tem diploma de nível superior.
A fraca indústria de manufaturados brasileira e a concentração de terra, junto a outros fatores, levaram ao predomínio de uma economia de serviços que emprega em torno de 80% dos trabalhadores em 2022. Ao mesmo tempo em 2021 metade dos trabalhadores não possuiam carteira assinada. Isso levou a todos os tipos de mal-entendidos sobre o status de classe de vários trabalhadores. Os trabalhadores da alimentação e varejo, por exemplo, são frequentemente vistos pelo Estado e até por muitos sindicatos como não sendo “trabalhadores de verdade”. Os funcionários da Uber, Ifood e outros funcionários da economia de bicos são categorizados – legal e socialmente – como autônomos. Os trabalhadores da educação também sofrem dessa invisibilização categoria, porque, grosseiramente, não “produzimos” algo como os operários de uma fábrica.
Mas isso ignora o que de fato aconteceu. O Brasil não é um país desinsdustrializado em uma visão mais ampla de indústria. A verdadeira história é a redução da economia manufatureira e a industrialização de outros setores, como educação, saúde, alta tecnologia, logística, varejo e alimentação.
O trabalho que os alunos fazem é apenas isso: trabalho. Ir à biblioteca, ler livros, digitar redações, coletar amostras para laboratórios, apresentar dados, fazer maquetes, ensaiar para apresentações – tudo para obter uma nota – exige tempo, energia e concentração. É trabalho. Além disso, suas próprias escolas geralmente ficam mais do que felizes em explorar a mão de obra de seus alunos para manutenções necessárias à escola sempre que podem. Se você está lendo isto, é muito provável que trabalhe para a universidade que frequenta. Ou trabalha nas proximidades, com a universidade impulsionando todo o cenário econômico que o cerca.
Enquanto se espera que os alunos paguem para adquirir o conhecimento e as habilidades de que precisam, ou o façam de graça, os trabalhadores do comércio trabalham como aprendizes remunerados para fazer a mesma coisa. Como chegamos nesta situação em que o trabalho daqueles que estudam para uma profissão é visto como digno de remuneração, e o trabalho feito por alunos em cursos puramente acadêmicos é visto como um privilégio?
A mentira do trabalho manual versus o trabalho qualificado
O início da industrialização e do trabalho em fábricas levou à divisão dos trabalhadores em dois tipos. Essa divisão do trabalho, mais tarde formalizada por meio da teoria da “administração científica” estabelecida por Fred Taylor, separava aqueles que gerenciavam o trabalho daqueles que faziam o trabalho em si. Os planejadores de trabalho eram vistos como cientistas que dividiam as tarefas para maximizar a produtividade e a produção. Os que faziam o trabalho eram vistos como máquinas de baixa qualificação facilmente substituíveis.
A composição técnica da classe trabalhadora (a divisão do trabalho) é muito diferente do que era no início da industrialização, mas seu objetivo continua o mesmo: criar uma hierarquia entre os trabalhadores para maximizar a produção e minimizar os custos – especialmente os custos de mão de obra. Os chefes e a imprensa podem rotular arbitrariamente conjuntos de trabalhadores como “não qualificados” e classificar o trabalho que eles fazem como inútil, mesmo que tenha um valor social fundamental. Isso justifica os salários de miséria, o racismo e a criminalização de uma “classe inferior”.
O trabalho de colarinho branco, por outro lado, é apresentado como superior, embora ainda exista a mesma relação fundamental entre patrão e trabalhador. Para uma porcentagem cada vez menor de trabalhadores de colarinho branco que chegam à classe gerencial, há realmente dignidade e facilidade no trabalho. Essa hierarquia é usada para apresentar o estudo como um privilégio pelo qual vale a pena pagar. Mas para um número cada vez maior de pessoas, a lista de itens que diferenciam suas condições das dos trabalhadores de colarinho azul fica mais curta a cada dia. Mesmo aqueles que têm sorte e “conseguem” ter um estilo de vida de renda média estão descobrindo que suas condições estão se deteriorando rapidamente ou que, no início, eram um lixo. Enfermeiras e professores, por exemplo.
A estrutura histórica do setor de educação lançou as bases para uma divisão de trabalho entre os trabalhadores: uma divisão em que os professores trabalham ensinando e os alunos trabalham aprendendo – sem nenhuma contribuição e sem autoridade para questionar o que estão ensinando ou sendo ensinados. Acreditamos que essas divisões de trabalho entre a instrutores e os alunos são tão arbitrárias quanto as divisões entre os trabalhadores de colarinho azul e os de colarinho branco. Mas as crenças são inúteis sem teoria e ação para sustentá-las. Como os alunos acabaram sendo considerados meras matérias-primas? Para responder a essa pergunta, precisamos analisar o formato do setor educacional.
O setor educacional inclui:
- escolas públicas, filantrópicas e particulares do do fundamental ao ensino médio;
- instituições de ensino superior (IES), como faculdades, universidades e institutos federais;
- ONGs, fundações e departamentos governamentais voltados para a pesquisa, o financiamento e o desenvolvimento de currículos na área de educação;
- treinamento profissional corporativo e governamental e instalações de aprendizagem contínua;
- instituições culturais, como museus e bibliotecas; e os exércitos amorfos de tutores e empresas de tutoria que cercam todo o setor.
Desde a década de 1840 e, principalmente, desde a década de 1890, a educação se industrializou, passando de escolas locais e comunitárias a um setor, da mesma forma que os setores de varejo, serviços, logística, jurídico, saúde, hotelaria, ferrovias, construção, marítimo e agrícola. Sob o pretexto de “reforma”, essas gerações sucessivas de capitalistas da classe dominante moldaram e remodelaram a educação de acordo com as linhas industriais.
Desde os anos 90 e, principalmente, desde 2007, os capitalistas retiraram do setor público grandes parcelas da educação por meio de escolas charter e vouchers. Isso acelerou rapidamente o ritmo da industrialização, pois os administradores e executivos de empresas puderam se esquivar dos sindicatos e da responsabilidade pública. Os trabalhadores da educação sindicalizados, inclusive os estudantes, enfrentam ataques constantes, em grande parte porque eles explodem a linha que divide a “classe média” da “classe trabalhadora” pelo que ela é: quase inteiramente ideológica e não material.
Às vezes, os trabalhadores da educação realizam a produção no setor, como planejamento de aulas, estudos, construção de exposições, redação de ensaios, montagem de salas de aula, criação de programas, montagem de experimentos ou ensino. Outras vezes, esses trabalhadores distribuem produtos ou implementam ferramentas já geradas pela classe gerencial e produzidas por trabalhadores de outros setores como um serviço. Livros didáticos do setor de impressão e publicação, por exemplo. Há ainda as “ONGs” de educação, como a Todos pela Educação, que pratica por cima e por baixos dos panos dita a política educacional do Brasil. Trabalhadores com empregos de escritório desenvolvem as ferramentas curriculares que os professores e outros profissionais da educação usam para transformar a matéria-prima – os alunos – nos trabalhadores, em sua ampla maioria, e nos gestores, em sua minoria.
Os professores, por outro lado, são apresentados como profissionais com autonomia para ensinar informações essenciais de maneira criativa. Mesmo que a realidade seja que o professor esteja implementando um currículo cada vez mais roteirizado, elaborado por administradores e pesquisadores que trabalham em fábricas de currículos corporativos. Essas pessoas da classe gerencial profissional raramente ensinaram ou aprenderam nos mesmos ambientes em que seu currículo será implementado. A divisão do trabalho sempre parece vir acompanhada de uma redução de tarefas, pois os funcionários realizam tarefas cada vez menores. Isso justifica a estagnação ou o declínio dos salários e das condições para todos os tipos de profissionais da educação.
E, desde a críse de 2008, multidões de estudantes universitários tentam dá um jeito nas contas com empregos precarizados, até mesmo depois de formados. O desemprego, que se buscava esquivar, bate na porta de modo cada vez mais indiferente aos trabalhadores com ensino superior e os que não tem.
Então, para que serve toda essa dívida estudantil? Para que serve todo esse trabalho que você está dedicando aos seus estudos? Disseram-lhe que era para conseguir um bom emprego. Mas até mesmo os “bons empregos” estão ficando menos bons a cada dia. Ao nosso redor, o custo de vida está subindo em uma taxa exponencial. Há quarenta anos, era possível conseguir um emprego que não pagava muito bem, independentemente de você ter ou não um diploma universitário. Agora, após décadas de neoliberalismo, o sistema atual é disfuncional – os custos da educação dispararam, enquanto o valor de um diploma despencou.
A brilhante economia da informação do futuro é, na verdade, um pesadelo distópico. É um belo campus de universidade ou faculdade em um belo horizonte urbano sustentado por um ecossistema caracterizado pela exploração. Vamos fazer um breve tour. Na biblioteca, você encontrará estudantes-trabalhadores sem sono, bibliotecários estressados, estudantes ainda mais sem sono produzindo trabalhos e trabalhadores imigrantes contratados por um serviço de limpeza esfregando os banheiros. Algumas dessas funcionárias foram forçadas a trabalhar enquanto estavam grávidas, o que as levou a abortar.
Dê uma olhada nas salas de aula, onde assistentes de ensino escandalosamente mal pagos, estudantes pesquisadores e professores temporários dão aula após aula e saem com uma pilha de trabalhos para corrigir em um apartamento de merda que consome a maior parte de seus parcos rendimentos. Tudo isso na vã esperança de conseguir um cargo de professor titular.
Enquanto isso, os alunos correm para acompanhar a carga de trabalho exigida pelos administradores da universidade. Você fica acordado a noite toda, mais uma vez, para concluir aquele trabalho de conclusão de curso depois de cumprir com suas obrigações como bolsista, ou estagiar em algum lugar.
Você faz o que for preciso no laboratório para não ser descartável. Você se inscreve em um curso extra para poder se formar mais cedo e assumir menos dívidas. Você humilha com o departamento de assistência estudantil para conseguir um pouco mais de ajuda. Você vê seus créditos disponívels para cursar acabarem enquanto a divida só aumenta. Você passa por mais um dia de aulas, depois um turno de trabalho como vendedor de meio período, ou pesquisador, ou telemarketing, ou garçom de restaurante, ou operário de fábrica, ou qualquer outra coisa. Tudo para manter as luzes acesas em um apartamento de merda de um quarto que você divide com um grupo rotativo de colegas de quarto. Tudo pela chance de receber um pedaço de papel que pode ou não lhe dar um emprego.
Do lado de fora, os funcionários das instalações mantêm os terrenos do campus em meio às altas temperaturas. Na parte interna, os funcionários dos serviços de limpeza e alimentação são subcontratados por empresas como a CriArt para separá-los de seus colegas trabalhadores da educação nas mesmas escolas. As principais lideranças sindicais geralmente defendem essa divisão, separando os trabalhadores da mesma instituição em diferentes unidades de negociação que competem por benefícios insignificantes e não se apoiam mutuamente durante as ações trabalhistas.
Os alunos fazem grande parte do trabalho essencial que mantém uma instituição de ensino superior funcionando. Sem o fluxo de trabalhos, testes e outros materiais a serem avaliados, grande parte da equipe de ensino não teria emprego algum. Durante o período em que somos alunos, somos basicamente considerados matéria-prima, embora estejamos realmente trabalhando. Frequentemente, passamos algum tempo trabalhando para as instituições em que estudamos. Algumas bolsas que se buscam iniciar o estudante academicamente servem mais para este ser um auxiliar a baixo custo de um professor ou algum departamento. Esse trabalho é importantíssimo. Em vez de apenas serem moldados nas instituições, os alunos deveriam organizar e dirigir seu próprio trabalho nos locais de educação!
Onde estão as organizações estudantis?
Tal como todo sindicato, os organizações de estudantes destinavam-se a quebrar essa hierarquia e a dar aos estudantes poder de negociação sobre o currículo e a forma como os recursos da universidade são gastos. Em vez disso, as associações de estudantes (gremios e centros acadêmicos) tornaram-se governos de estudantes dependentes das universidades, que controlam os seus rendimentos, limitam o seu âmbito e canalizam as tentativas de mudança real para processos burocráticos que favorecem a gestão universitária.
Os governos estudantis são agora vistos como meros prestadores de serviços que organizam eventos sociais, gerem bares com álcool barato e melhoram a “experiência estudantil”. Entretanto, os problemas fundamentais causados pela gestão universitária, como a subida em flecha das propinas, a redução do tempo de contacto e o agravamento da saúde mental, recebem pouca atenção.
As condições de trabalho dos funcionários são as condições de aprendizagem dos estudantes. Os cortes nos salários e na previdência, o aumento da carga de trabalho e a precarização, bem como a depressão generalizada, têm feito com que as más condições de trabalho se traduzam diretamente numa pior qualidade do ensino.
Estão surgindo várias experiências de sindicatos que buscam integrar todos os trabalhadores envolvidos no processo educacional. Em 2022, na Filadélfia, estudantes da Temple University criaram um comitê organizador, TUUWOC, para debater as condições dos trabalhos prestados a universidade por estudantes de graduação. Em 2020, a IWW iniciou um Comitê Organizador dos Trabalhadores da Educação da Região Metropolitana de Washington (EUA) sob a mesma lógica de integrar professores, estudantes, técnicos, equipe de manutenção, serviços gerais etc. Outro exemplo interessante se deu na Baia de São Francisco (EUA), onde professores de uma escola privatizada, algo que não se desenvolveu no Brasil, construiram o sindicato com a IWW que envolvia organizamente as famílias das crianças na luta pelo maior controle da gestão da escola pelos trabalhadores e não pelos patrões.
Infelizmente estas experiências ainda são raras. Há obstáculos únicos e desafiadores que os estudantes têm de enfrentar quando tentam se organizar. Os estudantes geralmente se dedicam exclusivamente às aulas e ao pagamento das contas, deixando pouco tempo para se organizarem, o que poderia causar problemas ou desviar seus estudos do curso. Níveis vertiginosos de dívidas de empréstimos estudantis e uma rede de segurança social em decadência deixam os estudantes em situações precárias, em que suas escolhas são entre arruinar suas finanças para obter um diploma ou voltar para casa de famílias que nem sempre tem boas relações. As vidas soterradas pelos vícios, os corpos mortos pela violência policial/criminal e as crescentes taxas de falta de moradia entre aqueles que não têm nenhuma educação opara os lados.
Para esses estudantes, apenas chegar à data da formatura e conseguir algum tipo de emprego decente são as prioridades mais importantes. Ser estudante significa passar por um processo de transformação que pode levá-lo a profissões específicas. Algumas delas ainda são empregos de alta remuneração e de boa qualidade. Os cursos de engenharia e outros cursos da área das exatas, por exemplo, ainda são muito valorizados pelos empregadores. Os diplomas de mestrado possibilitam cargos e salários mais altos, ainda que com o crescente desemprego de mestres e doutores. Os diplomas de medicina e direito quase garantem a entrada na pequena burguesia. Os diplomas nas licenciaturas e enfermagem não trazem bons salários ou condições de trabalho, mas você terá um emprego.
Se você conseguir passar pelo desafio.
Em seu caminho em direção a essa miragem brilhante, cerca de 55% dos estudantes universitários abandonam o curso antes de terminar no Brasil. As pressões acadêmicas e financeiras avassaladoras são os principais motivos. Inúmeros alunos têm bolsas de estudo e ajuda financeira diretamente vinculadas ao seu “ranking” ou “índice de desempenho”. Isso mantém os alunos competindo entre si pela índice mais alto, pela maior quantidade de atividades extracurriculares e pelos estágios mais sofisticados. Os alunos de alto desempenho podem ser ouvidos constantemente se gabando do pouco que dormem e do quanto estão esgotados.
Esses alunos geralmente são de origem rica. Eles não se preocupam com a sobrevivência material como a maioria dos outros alunos. Assim, eles podem ser a referência de dedicação e reforçar uma cultura de exploração com um sorriso. O sistema também prejudica esses alunos, mas eles podem resistir até que seus pais consigam um emprego confortável para eles.
As entidades estudantis existentes são dominados por esses alunos privilegiados. Eles têm o tempo, a energia e os recursos necessários para investir e participar plenamente. O problema, é claro, é que eles estão interessados em se aproximar da administração. Conversas respeitáveis são a maneira pela qual eles resolvem seus problemas.
Muitas vezes este privilégio pode não ser econômico, as político. Os partidos eleitorais de esquerda, e agora até alguns de direita, são profissionais em financiar estudantes profissionais para que estes garantam o aparelhamento das entidades para o seus interesses. Mesmo que não haja inicialmente pagamentos mensais, o esforço destes militantes partidários sempre será recompensado no partido, como através de cargos comissionados e até secretarias do de governos.
Recuse-se a ser dividido
Apesar das lutas comuns enfrentadas por alunos, professores e outros funcionários da universidade, os alunos ainda são vistos como algo separado dos sindicatos de funcionários. Isso permitiu que a administração da universidade jogasse incessantemente o jogo de dividir para conquistar.
Muitos estudantes perceberam essa mentira. Os alunos organizaram de forma independente piquetes, ocupações e protestos em apoio aos funcionários. Por exemplo, centenas de calouros da American University saíram das cerimônias de abertura e se juntaram aos funcionários no piquete em agosto de 2022. A vontade da administração já estava cedendo com a militância dos grevistas. Como a universidade se recusava a negociar, esses trabalhadores haviam votado para autorizar uma greve de 22 a 26 de agosto – bem durante a mudança dos alunos no semestre. A administração da universidade tentou primeiro colocar o corpo discente contra os trabalhadores e, em seguida, ignorou-os. Isso foi um fracasso abjeto, pois os trabalhadores marcharam ruidosamente por todo o campus. Muitos desses trabalhadores também eram estudantes, o que facilitou a manutenção do apoio dos alunos de graduação.
Em seguida, a administração tentou interromper a greve forçando parte da equipe de limpeza a começar a transferir os pertences e móveis dos alunos para os dormitórios. Os trabalhadores e os alunos impediram essa ação e envergonharam a universidade publicamente. Os políticos da cidade e os meios de comunicação locais divulgaram a história e até ofereceram apoio aos trabalhadores. Quando a universidade realizou sua cerimônia de abertura no último dia da greve, os alunos saíram cantando “paguem seus funcionários!”. Após o protesto dos estudantes, a administração aceitou a derrota e voltou à mesa de negociação com grandes concessões, e os trabalhadores – afiliados ao Local 500 do SEIU (Sindicato Internacional de Empregados de Serviços) – comemoraram uma vitória impressionante.
A Industrial Workers of the World (IWW) é um expoente na luta para acabar com esta divisão. Organizando todos os trabalhadores empregados em instituições de ensino superior – inclusive estudantes – em comitês independentes. Esses comitês usam a democracia direta e a ação direta para identificar problemas comuns e encontrar maneiras de lutar junto.
O conhecimento é um bem social e deve ser livre e prontamente acessível e disponível a todos. Os envolvidos no trabalho educacional – professores e alunos – devem determinar o que está sendo ensinado e como. Isso só poderá ser alcançado quando abolirmos a sociedade capitalista.